Como garantir precisão em aplicação de injetáveis

Tempo de leitura: 9 minutos

Neste artigo você vai conhecer conceitos e recomendações que impactam diretamente na precisão em aplicação de injetáveis que você aplica.

Já parou para pensar que uma seringa é um instrumento de medida?

A principal função de uma seringa é aplicar a injeção, porém, é por meio dela que você consegue quantificar a dose a ser administrada. Por isso, lembre-se que uma seringa é instrumento de medida.

Quando você precisa aspirar o injetável (a partir de uma ampola ou frasco-ampola) você utiliza uma seringa tradicional. Elas têm uma escala de graduação. Saber interpretar esta escala e posicionar o stopper no local correto é fundamental para garantir a precisão na aplicação de injetáveis. Entenda melhor estes dois aspectos:

  • Figura 1 – Conhecer a escala é fundamental para precisão em aplicação de injetáveis

    A escala de graduação se encontra gravada no corpo cilíndrico da seringa. Compreender quanto vale cada menor traço desta escala faz toda a diferença. Veja no exemplo ao lado uma seringa que tem escala de 0,1 mL. Isto significa que o espaço que fica entre cada traço comporta 0,1 mL de medicamento. Atenção para seringas que têm escala graduada em unidades de insulina. Erros de dose neste caso podem causar sérios riscos para os pacientes.

  • O stopper é a rolha de retenção, que fica na ponta do êmbolo. Em algumas
    Figura 2

    seringas, o stopper pode ter a superfície reta. Em outras, ele pode apresentar uma ponta. Ao preparar a seringa com a dose a ser aplicada, você deve posicionar o stopper na direção da marca que corresponde à dose prescrita. Veja este exemplo abaixo que mostra uma seringa pronta para administrar 2,0 mL. 

Conhecer as diferenças entre as seringas é fundamental para aplicar a dose certa.

Espaço residual ou espaço morto nas seringas

Seringas que têm agulha removível têm espaço residual, também conhecido como “espaço morto”. É uma área que fica no interior do bico da seringa, local onde acontece a junção com a agulha. Este espaço comporta uma quantidade de medicamento que não será aplicada, trata-se de um excedente. Ao preparar a dose, saiba que a escala de graduação da seringa já desconta a quantidade de medicamento que fica neste espaço. Como comentado no início deste artigo, a seringa é um instrumento de medida e a escala gravada na seringa é o que você deve utilizar como referência.

O espaço residual (ou espaço morto) gera algum tipo de prejuízo?

As normas brasileiras (NBR) que determinam as especificações de cada tipo e tamanho de seringa informam qual o espaço residual, ou espaço morto, que cada seringa pode ter. Os fabricantes precisam atender a esta especificação. O espaço residual é uma característica prevista para o produto. Ele não é um defeito, porém gera desperdício de medicamento. Para compensar isso, os medicamentos injetáveis líquidos são apresentados em embalagens que contêm quantidades maiores que as descritas nos seus rótulos. Isso é conhecido como “volume excedente”.

Entenda o que é o volume excedente nos injetáveis

Medicamentos injetáveis têm volume excedente mínimo, que serve para permitir a retirada e a administração do volume declarado. A sua presença pode compensar a quantidade desperdiçada de medicamento no espaço residual da seringa.

O volume mínimo excedente se encontra especificado nas farmacopeias. A tabela abaixo é encontrada na Farmacopeia Brasileira 6ª edição.

Tabela – Excesso de volume recomendado para produtos líquidos injetáveis

Volume declarado (mL) Excesso mínimo de volume recomendado
Móveis (mL) Viscosos (mL)
0,5 0,10 0,12
1,0 0,10 0,15
2,0 0,15 0,25
3,0 0,20 0,35
4,0 0,25 0,45
5,0 0,30 0,50
10,0 0,50 0,70
20,0 0,60 0,90
30,0 0,80 1,20
50,0 ou mais 2% 3%

Fonte: Farmacopeia Brasileira 6ª edição

Analisando as informações da tabela, saiba que, por exemplo, uma ampola que apresenta volume declarado de 2,0 mL de solução de um medicamento deve apresentar no mínimo 0,15 mL de excesso mínimo. Ou seja, no interior desta ampola haverá no mínimo 2,15 mL e não 2,0 mL como declarado no rótulo.

Uma farmacopeia apresenta os padrões e critérios que a indústria farmacêutica deve utilizar para realizar os diversos testes de qualidade dos medicamentos. No caso dos injetáveis, o teste de Determinação de Volume se aplica a ampolas, frascos-ampola, bolsas plásticas, frascos plásticos, carpules ou seringas pré-carregadas e deve contemplar o excesso de volume recomendado.

Vai usar frasco-ampola? Então saiba deste cuidado extra

No caso de preparar um injetável apresentado em frasco-ampola, uma recomendação que pode ser implementada é a de injetar ar em quantidade igual à que vai ser aspirada. Esta medida elimina a pressão negativa interna causada pelo vácuo, que existe originalmente em algumas apresentações ou é formado à medida que o conteúdo é aspirado. Isso é fundamental, especialmente em frascos que contém múltiplas doses.

Aspirou a dose? Confira!

Um ponto bastante importante é conferir a seringa depois da etapa do preparo da dose. A seringa não deve conter nenhum volume de ar, pois isso pode comprometer a dose de medicamento que será administrada. Por isso você deve conferir, inspecionar a seringa após aspirar o medicamento. Ao identificar a presença de bolhas de ar, expulse-as com cuidado, seguindo os seguintes passos:

  • Coloque a seringa na posição vertical deixando a escala de graduação na altura dos seus olhos.
  • Dê leves toques na seringa ou faça movimentos circulares rápidos. As bolhas de ar irão se deslocar para o alto.
  • Elimine estas bolhas de ar empurrando o êmbolo. Deslocar o êmbolo para baixo e para cima ajuda neste momento. Cuidado para evitar perdas de medicamento.
Figura 3

Ao final, o stopper deve estar no lugar certo, ou seja, posicionado na altura que corresponde à dose. Deve-se ter apenas medicamento desde este ponto até o bisel (a ponta da agulha). Desta forma, a quantidade de medicamento que será administrada, irá corresponder à dose pretendida. No exemplo da figura ao lado, esta quantidade corresponde a 0,5 mL.

Estas dicas são fundamentais para garantir precisão em aplicação de injetáveis

Seringas preenchidas oferecem mínimo risco de erro de dose

Alguns injetáveis são apresentados em seringas preenchidas, também denominadas seringas pré-carregadas. É o formato mais recomendado para embalagem primária de injetáveis, pois oferecem maior segurança.

Um estudo analisou o tempo gasto com o preparo e aplicação de cada dose de vacina contra influenza na campanha de 2009/2010 nos Estados Unidos. Foi observado que a vacinação com frasco multidose levou em média 37,3 segundos a mais do que com seringas preenchidas. Segundo os autores, em uma situação de pandemia (demanda de 300 milhões de doses de vacina), as preenchidas economizariam 3,12 milhões de horas de trabalho de profissionais de saúde, o que equivaleria a 111,1 milhões de dólares.

Se você trabalha com aplicação de injeção há muitos anos, vai perceber que as seringas preenchidas têm se tornado cada vez mais frequentes. Observe os lançamentos e você vai perceber que muitos dos novos medicamentos desenvolvidos recentemente são apresentados em seringas preenchidas ou em dispositivos prontos para uso, como as canetas para autoaplicação. Estas apresentações estão substituindo as ampolas e frascos. É o caso de anticorpos monoclonais, como o denosumabe, omalizumabe, análogos do GLP-1, como semaglutida e liraglutida, vacinas diversas e até análogos de insulina como apidra e detemir.

Como as seringas preenchidas estão cada vez mais presentes nas salas de injeção e de vacinação, muitos profissionais notam que existe a presença de uma bolha de ar no interior destas seringas. Eles se perguntam qual a conduta correta. Pacientes também podem ter dúvidas, pois a autoaplicação é comum nestas injeções. Por isso eu separei duas perguntas para discutir este tema com você: 

Seringas preenchidas: É necessário eliminar a bolha de ar antes da injeção? Haveria algum risco para o paciente?

A fonte mais segura para se obter resposta para a primeira pergunta é a bula, pois ela contém as orientações do fabricante do medicamento. Em alguns casos, a bula informa de forma explícita que a bolha de ar não deve ser eliminada. Em geral, no caso de seringa preenchida, a presença deste gás no seu interior é prevista e está calculada. Eliminar a “bolha de ar” poderá comprometer a dose administrada.

Muitos profissionais imaginam que esta bolha de ar precisa ser eliminada e até mesmo que ela poderia causar algum risco para o paciente. Seguem algumas considerações:

  1. Ao preparar uma dose de injetável apresentado em ampola ou frasco-ampola. Neste caso, você vai aspirar o volume necessário com uma seringa tradicional e, conforme já abordado no item anterior, você deve expulsar o ar do interior da seringa. O ar no interior desta seringa irá comprometer o volume de medicamento aplicado.
  2. Ao utilizar seringa preenchida, em geral, não é necessário expulsar o ar presente no seu interior. SEMPRE siga as orientações do fabricante. Do contrário, haverá comprometimento do volume de medicamento aplicado. 
  3. Se o gás presente na seringa for administrado no tecido subcutâneo ou muscular, não há risco para o paciente.

Neste artigo você aprendeu que existem diversos aspectos que impactam na precisão em aplicação de injetáveis. Segue abaixo um resumo das dicas para você não esquecer de colocar em prática:

  • Selecione a seringa certa.
  • Saiba interpretar a escala de graduação da seringa e posicionar o stopper para obter a dose certa.
  • Não aspire quantidade maior para compensar o espaço morto da seringa. Confie na escala de graduação da seringa. Ela “informa” a quantidade de medicamento que será administrada.
  • Dê preferência para utilizar injetáveis apresentados em seringas preenchidas, quando possível.
  • Apenas elimine as bolhas de ar presentes no interior da seringa quando necessário. Para seringas preenchidas, siga recomendações do fabricante.

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REFERÊNCIAS

Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopéia Brasileira. Determinação de volume. Brasília, 2019.

CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Administração de vacinas e de outros medicamentos injetáveis por farmacêuticos: uma abordagem prática. Brasília, 2022.

Pereira, C. C., Bishai D. Vaccine presentation in the USA: economics of prefilled syringes versus multidose vials for influenza vaccination. Expert Rev. Vaccines 9(11), 1343–1349 (2010).

2 Comentários

  1. Elizabete

    Muito obrigada por compartilhar esse artigo, foi valioso pra mim. Sempre aprendendo com vc🙏😘

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