Resíduos perfurocortantes: melhores práticas para descarte em domicílio

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Os resíduos perfurocortantes são produzidos e descartados em grandes quantidades todos os dias. Boa parte deles é gerada nas residências dos pacientes ou em locais onde estas pessoas transitam, afinal, há várias patologias que exigem o uso crônico de injetáveis.

Um importante exemplo é a diabetes, que demanda o uso da insulina e também dos análogos do GLP-1, como liraglutida e semaglutida. Para se ter uma ideia do volume de seringas e agulhas utilizadas apenas para estas classes de medicamentos, é importante lembrar de estatísticas mais atuais do diabetes. Segundo a IDF Diabetes Atlas:

  • O Brasil é o sexto país do mundo com o maior número de pessoas com diabetes e o primeiro da América Latina;
  • Pessoas entre 20 e 79 anos somam, no país, quase 16,8 milhões com a doença;
  • Somos o terceiro país do mundo com crianças e adolescentes que convivem com o diabetes tipo 1.

Como boa parte dos tratamentos com injetáveis exigem mais de uma aplicação por dia, é possível ter uma ideia do gigantesco número de resíduos perfurocortantes que se acumulam diariamente nos domicílios. E de que forma você acredita que todo este material está sendo descartado pelos seus pacientes?

Certamente, você, profissional de saúde, tem um papel fundamental na orientação a estas pessoas! Lembre-se que agulhas, seringas, lancetas e outros resíduos perfurocortantes gerados nos domicílios oferecem o risco de causar ferimentos e de transmitir vírus que podem causar infecções importantes como Hepatite e AIDS.

Resíduos perfurocortantes: descarte correto nos estabelecimentos de saúde

Quando falamos dos  serviços de saúde, temos normas técnicas e legais para o manejo seguro de todos os resíduos perfurocortantes. 

Aqui, no blog da Aplicar Conteúdo em Saúde temos uma área dedicada a legislações sobre injetáveis. Nesse link você pode acessar as seguintes legislações que abordam o descarte correto de resíduos perfurocortantes em estabelecimentos de saúde:

  • RDC 222 de 28 de março de 2018 que regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde e dá outras providências;
  • Resolução no 358, de 29 de abril de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) que dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde;
  • Norma Regulamentadora 32 (NR 32) de novembro de 2005, do Ministério do Trabalho e Emprego que  estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde.

Descarte de perfurocortantes: aspectos fundamentais

Selecionei para você alguns pontos importantes sobre este tema, todos eles encontrados nas legislações citadas acima:

Segundo a Anvisa, são resíduos perfurocortantes ou escarificantes, as “lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, fios ortodônticos cortados, próteses bucais metálicas utilizadas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas, tubos capilares, micropipetas”, dentre outros. 

Sendo assim, os resíduos citados acima correspondem ao Grupo E e devem ser identificados “pelo símbolo de risco biológico, com rótulo de fundo branco, desenho e contorno preto, acrescido da inscrição de RESÍDUO PERFUROCORTANTE”.

A RDC 222, publicada pela Anvisa, em 2018 descreve que “os materiais perfurocortantes devem ser descartados em recipientes identificados, rígidos, providos com tampa, resistentes à punctura, ruptura e vazamento.” 

Além disso, de acordo com a NR 32, “para os recipientes destinados à coleta de material perfurocortante, o limite máximo de enchimento deve estar localizado 5 cm abaixo do bocal.”

Resíduos perfurocortantes: descarte correto pelos pacientes

Não existem diretrizes formais para o descarte seguro de resíduos perfurocortantes gerados em ambientes diferentes dos estabelecimentos de saúde. Sendo assim, devemos ter como base as recomendações nos documentos oficiais utilizados nos estabelecimentos de saúde citados acima.

Dessa forma, o descarte dos insumos gerados em casa precisam seguir o mesmo padrão utilizado nos serviços de saúde, ou seja, em coletores específicos. Eles podem ser encontrados em lojas de materiais cirúrgicos e farmácias.

Não sei se você sabe, mas há prefeituras que disponibilizam estes coletores aos usuários que recebem os insumos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Recentemente, estive na UBS do meu bairro e tive esta grata surpresa! Fico na torcida para que esta iniciativa seja multiplicada em mais locais!

Apesar disso, caso o paciente não tenha acesso a eles, você, profissional de saúde deve orientá-lo a usar um recipiente com características semelhantes às definidas nas legislações.

Então, de acordo com os seus conhecimentos, responda: quais os recipientes abaixo estariam indicados para o descarte de resíduos perfurocortantes pelos seus clientes?

Se você respondeu a letra B, acertou! 

Idealmente, o recipiente deve:

  • ser feito de material inquebrável,
  • ter paredes rígidas e resistentes à perfuração,
  • ter abertura larga,
  • ter tampa e
  • ficar armazenado em local seguro.

Tabela de descarte de resíduos de acordo com destino ideal 

Nem todos os resíduos gerados após a aplicação de uma injeção devem ter o mesmo destino. Vários deles não oferecem riscos de contaminação, são considerados resíduos comuns. Eles não precisam ser descartados nos coletores de perfurocortantes. Por isso, observe a tabela abaixo que traz uma relação de resíduos e os destinos próprios de acordo com sua natureza.

Material Destino 
  • Frascos de insulina;
  • Canetas descartáveis (sem as tampas);
  • Seringas acopladas com agulhas;
  • Lancetas;
  • Reservatórios de insulina das bombas de infusão.
Coletor de perfurocortantes
  • Canetas recarregáveis (sem o refil de insulina);
  • Tampas de canetas e das agulhas;
  • Embalagens, caixas, bulas e outros materiais que envolvem as seringas, agulhas e medicamentos.
Lixeira Comum
  • Pilhas e baterias (utilizados em monitores de glicose e bomba de infusão).
Coletores específicos*

*Podem ser encontrados em alguns estabelecimentos comerciais, inclusive em algumas farmácias.

Destino final de resíduos perfurocortantes acumulados em domicílio

Depois que os recipientes forem preenchidos, o destino final não deve ser o mesmo dos resíduos comuns. 

Por isso, os profissionais de saúde precisam recomendar aos seus pacientes que eles encaminhem estes recipientes até alguma Unidade Básica de Saúde. Lá, os resíduos passarão pelo tratamento e destinação recomendados nas resoluções. É possível que outros estabelecimentos de saúde, como farmácias e hospitais, possam também oferecer esta solução. Recomendo que você consulte na sua região para oferecer uma recomendação mais próxima da sua realidade.

Que tal deixar um comentário sobre a sua experiência neste tipo de orientação? Quero muito saber se você já oferecia estas orientações ou se tudo isso é uma grande novidade para o seu dia a dia.

Neste artigo, eu procurei divulgar uma alternativa para o descarte correto de resíduos perfurocortantes. Isso porque a questão é um grande desafio não só para gestores e profissionais de saúde, mas para toda a sociedade. 

Quero ressaltar que  é nosso dever zelar, enquanto profissionais de saúde, não só pela saúde de nossos pacientes, mas também pela segurança de pessoas e de animais. Isso quer dizer que precisamos instruir sobre o descarte correto desses materiais àqueles envolvidos no processo.  

O que achou do artigo? Aguardo seus comentários e sugestões. Surgiu alguma dúvida? Fico à disposição para mais esclarecimentos. Até a próxima.

Acesse também:

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Referência:

Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. — São Paulo : Editora Clannad, 2020.

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